NOVO ARTIGO: “O Brasil de todos”, por Aldeone Pereira

Dia 05 de Outubro de 2018 celebraremos 30 anos da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Acredita-se que será um momento de rememorização dos trabalhos intensos de parlamentares constituintes, eleitos para elaborar e aprovarem um Texto Constitucional que atendesse os anseios da construção de um País livre, justos e solidário.

E após 30 anos de redemocratização do Brasil ficamos preocupados com os difíceis e assustadores tempos, especialmente, no campo da política, tendo reflexos, por consequências em todas esferas da sociedade.

É perceptível que o desencanto e o indiferentismo político atingem uma parcela significativa da população brasileira. Fenômeno esse causado, entre outras razões, pelo o caos instalado no cenário atual. Em decorrência dessa desordem, vozes de vingança “com cara” de protesto são bradadas nas ruas e redes sociais. Vozes absorvidas pelo imaginário popular, expondo a sérios perigos a Democracia, tão sonhada e almejada em tempos de chumbo.

É nesse contexto desolador que queremos reafirmar a confiança na Constituição Federal de 1988. Uma Carta Cidadã, apesar de compreender a laicidade do Estado, foi ousada, invocando a proteção divina para que no Estado Democrático de Direito todos os brasileiros tivessem vida plena.

Na verdade a redemocratização faze-nos sonhar um sonho possível. Um “sonho sonhado juntos”, viabilizando a construção de um novo Brasil de todos, um Brasil que respeita e promove a cidadania e dignidade da pessoa humana.

Qual Brasil que queremos? Queremos um Brasil que considere a Constituição Brasileira de 1988, sangrando a cada reinterpretação motivada por eventos circunstanciais. Em muitos casos, criando situações jurídicas e sociais delicadas, e implantando um reinado de incertezas na sociedade brasileira.

A resposta o qual País queremos não deve ser uma tentativa de favorecimento ou críticas a grupos políticos, ou nem tão pouco, aos governantes de plantão. Mas deverá ser uma resposta que reanime o espírito público que reside no âmago de cada cidadão.

Cidadão que se mostra comprometido e corresponsável numa sociedade que luta pela erradicação de todas e quaisquer formas de misérias. Essa resposta será importante e acredita-se que o objetivo não seja, unicamente aparecer em telejornais, mas principalmente, colaborar na formação de uma consciência crítica e criativa do cidadão.

Ser cidadão implica confiar na finalidade da POLÍTICA como instrumento de diálogo na construção de uma sociedade digna e habitável. Ser cidadão implica ter consciência de que repudiar a política é entregá-la às mãos daqueles que a transformam em arma para defender apenas os próprios interesses. Já dizia Platão: “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam’.

Como é bela a visão do Papa Francisco ao afirmar que a “a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum”. E os meus olhos enchem-se de esperanças ao ver o grito descontente de um povo “livre, responsável e politizado”, dizendo não a corrupção. É verdade que um grito um tanto afônico e perigoso, pois se ver uma tentativa de negar a Política.

Nesse mesmo diapasão, a Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB), preocupada a conjectura atual brasileira defende a necessidade de um rompimento com a falsa ideia de que a Política é para ladrões, é coisa suja. Portanto, a Política é um meio urgente e essencial para a transformação da sociedade.

Iluminadoras são as palavras do teólogo e escritor Frei Beto: “A política não é intrinsecamente nefasta. Nefasto é o modelo político que sabota a democracia, privilegia a minoria rica, e nada faz de eficaz para promover a inclusão social. Ao contrário, permite ampliar a exclusão e reforça os mecanismos, inclusive repressores, que impedem os excluídos de avançarem da margem para o centro”.

Pessoalmente, acho perigoso negar essa dimensão tão inerente a vida do homem em sociedade. Mas como otimista quero sempre acreditar na força democrática de um povo que grita, chora e luta para construir uma nova sociedade. Que esse grito se reflita agora nas urnas.

Portanto, façamos uma verdadeira revolução politizada, propondo as derrubadas das velhas estruturas carcomida pela incompetência para gerenciar a coisa pública. Até deveríamos relembra o estadista Miguel Arraes que em 1963 protestando contra a Ditadura Militar: “A revolução brasileira nada mais é do que um esforço de todo um povo para superar condições de atraso e miséria”.

Aldeone Pereira – Ex-Padre, Advogado